Fratura por estresse no pé: como identificar os primeiros sinais
Atletas, corredores e praticantes de atividade física de impacto precisam se manter atentos a uma condição ortopédica silenciosa, porém grave: a fratura por estresse. Diferente das fraturas agudas, que são causadas por traumas diretos, esse tipo de lesão ocorre de forma gradativa, resultado da repetição excessiva de microimpactos no osso. No caso do pé, esse quadro é bastante comum, já que essa estrutura suporta o peso corporal e absorve energia a cada passo.
A identificação precoce da fratura por estresse é fundamental para evitar agravamentos, como a progressão da fissura para uma fratura completa e o afastamento prolongado do esporte. Muitos pacientes acabam negligenciando os primeiros sinais da lesão por falta de conhecimento, retardando o diagnóstico e dificultando o tratamento.
O que é uma fratura por estresse e como ela se desenvolve
A fratura por estresse é uma fissura microscópica que surge em um osso submetido a cargas repetitivas e sustentadas ao longo do tempo, sem que o corpo passe pelo repouso necessário para a recuperação da estrutura óssea. Esse tipo de fratura é resultado de um desequilíbrio entre o desgaste e a regeneração dos ossos, processo que acontece continuamente no corpo humano.
Durante a prática de atividades físicas de alto impacto, como corrida, futebol, dança ou crossfit, os ossos do pé são submetidos a pressões que, quando excessivas e constantes, superam a capacidade de remodelação óssea. Assim, ao invés de se fortalecerem com o estímulo, acabam enfraquecendo e desenvolvendo pequenas rachaduras internas. Com o decorrer do tempo, essas rachaduras aumentam, podendo se transformar em fraturas completas.
No caso dos pés, as fraturas por estresse acontecem com maior frequência nos ossos do metatarso, no navicular e no calcâneo. O risco aumenta quando há alterações biomecânicas, mudanças bruscas na intensidade dos treinos, uso de calçados inadequados e deficiências nutricionais.
Por não envolver um trauma agudo, essa fratura pode passar despercebida nos estágios iniciais. A dor surge de forma sutil e evolui com o tempo, tendendo a piorar durante ou após o exercício.
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Sintomas precoces: como identificar os primeiros sinais de fratura por estresse
Reconhecer os sintomas precoces de uma fratura por estresse é o primeiro passo para interromper a progressão da lesão e evitar complicações. Diferentemente de uma fratura de origem traumática, as fraturas por estresse são mais sutis e se desenvolvem gradualmente, o que pode confundir o atleta ou praticante de atividade física.
A dor localizada e progressiva é o sintoma mais comum, geralmente sentida em um ponto específico do pé. Essa dor tende a aumentar com a prática esportiva e alivia com o repouso, mas com o tempo ela pode se manifestar também em repouso ou durante atividades simples do dia a dia. A dor costuma ser notada na parte superior dos metatarsos ou no calcanhar.
Além da dor, também é possível notar um leve inchaço no local, além de sensibilidade ao toque, calor e vermelhidão. Esses sinais são mais evidentes após atividades físicas e podem ser confundidos com outras lesões, como inflamações articulares ou tendinites. Contudo, o padrão da dor é um indício importante para o diagnóstico.
Outro fator de alerta é a persistência da dor mesmo após o uso de analgésicos comuns ou após a redução da carga de treino. Quando o corpo não responde mais a essas medidas simples de alívio, significa que pode existir uma lesão estrutural mais significativa, como a fratura por estresse.
Por fim, é comum que o atleta tente compensar o incômodo com alterações na pisada, gerando sobrecarga em outras áreas e favorecendo o surgimento de novas lesões. Por essa razão, a escuta ativa ao próprio corpo e a busca por avaliação médica são atitudes fundamentais.
Principais fatores de risco para fraturas por estresse no pé
Vários fatores podem contribuir para o surgimento de fraturas por estresse, sendo que muitos deles estão relacionados à prática esportiva e ao estilo de vida. Compreender essas variáveis é fundamental para prevenir a lesão, principalmente entre indivíduos que praticam atividades físicas com frequência.
Um dos fatores mais relevantes é o aumento repentino da carga de treino. Alterações abruptas no volume, intensidade ou frequência de exercícios não permitem que o corpo se adapte, favorecendo o desgaste ósseo. Isso é especialmente comum entre praticantes de corrida que aumentam o número de quilômetros por semana ou intensificam treinos de velocidade sem planejamento.
A biomecânica inadequada também é um risco importante. Alterações no alinhamento dos membros inferiores, como pé cavo, pé plano, joelho valgo ou pisada pronada/supinada, acabam alterando a distribuição de carga durante a marcha ou corrida. Essas alterações aumentam a pressão sobre determinados pontos do pé, predispondo ao surgimento da fratura.
O uso de calçados inadequados é outro elemento crítico. Tênis com pouca absorção de impacto, desgaste acentuado ou ausência de suporte adequado para o tipo de pisada podem gerar microtraumas repetitivos. O mesmo vale para a prática do esporte em superfícies muito duras, como concreto ou asfalto.
Como é feito o diagnóstico e qual a importância da imagem precoce
O diagnóstico da fratura por estresse requer atenção clínica e, muitas vezes, apoio de exames de imagem nos estágios iniciais. Na maioria dos casos, a radiografia simples pode não mostrar alterações nos primeiros dias ou semanas após o início dos sintomas, sendo necessário utilizar exames mais sensíveis.
A avaliação profissional começa com anamnese, onde o médico ortopedista identifica e investiga o padrão da dor, histórico de atividades físicas, uso de calçados e possíveis fatores de risco. O exame físico busca identificar pontos de dor localizada, sensibilidade óssea, sinais de edema ou alterações na marcha.
Nos casos suspeitos, a ressonância magnética costuma ser o exame mais indicado, pois permite visualizar alterações ósseas e de tecidos moles com mais precisão, mesmo se a fratura estiver nos estágios iniciais. A cintilografia óssea também é útil para identificar áreas de remodelação óssea aumentada, típica das fraturas por estresse.
O diagnóstico precoce é fundamental para interromper o ciclo de sobrecarga e iniciar o tratamento adequado para cada caso. A ausência de confirmação por imagem não descarta a suspeita clínica. Por essa razão, muitos especialistas optam por tratar a dor localizada como uma fratura por estresse até que se prove o contrário.
Tratamento e prevenção: como garantir um retorno seguro à atividade
O tratamento da fratura por estresse no pé depende da localização, gravidade e do tempo de evolução da lesão. Na maior parte dos casos, a conduta é conservadora, ou seja, sem a necessidade de intervenção cirúrgica. O foco é o repouso, controle da dor e reabilitação funcional gradual.
O afastamento da atividade que causou a lesão costuma ser a primeira medida, e dura normalmente um período de 4 a 8 semanas. Durante essa fase, pode ser indicado o uso de calçados de imobilização ou muletas para aliviar completamente a carga do membro afetado. O objetivo é permitir que o osso consiga se regenerar sem estímulos prejudiciais.
A fisioterapia também tem um papel fundamental nesse processo, tanto na recuperação quanto na prevenção de recidivas. O protocolo inclui exercícios de mobilidade e fortalecimento da musculatura do pé, tornozelo e cadeia posterior, além da reeducação da marcha. O retorno ao esporte deve ser feito de forma gradual e com supervisão profissional.
A prevenção da fratura por estresse envolve uma abordagem multifatorial:
- Planejamento progressivo dos treinos
- Uso de calçados adequados
- Correção de déficits nutricionais
- Avaliações biomecânicas periódicas
- Fortalecimento da estrutura musculoesquelética
A fratura por estresse no pé é uma condição séria que pode comprometer o desempenho esportivo e causar afastamento prolongado das atividades. Identificar os primeiros sinais é essencial para iniciar o tratamento adequado.
Se você sentir dor persistente no pé durante treinos ou até mesmo ao caminhar, entre em contato conosco e agende uma consulta.
11-25079021
@DraAnaPsimoes!

Dra. Ana Paula Simões Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.

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