Meia de Compressão Realmente Funciona?
A maioria das pessoas associa este tipo de meia com condições médicas, como varizes e tornozelos inchados. No entanto, elas também são benéficas para os atletas, de forma preventiva
Essa semana atendi um paciente que teve uma trombose e me questionou sobre o uso das meias de compressão durante a corrida. Resolvi fazer esse artigo para tirar as duvidas de muitos atletas! A maioria das pessoas associa meias de compressão com condições médicas, como varizes e tornozelos inchados. No entanto, eles também são benéficas para os atletas, de forma preventiva. Atletas profissionais, incluindo medalhistas olímpicos, ficaram conhecidos por usar meias de compressão e manguitos de braço para melhorar desempenho e treinamento.
Você não precisa ser um atleta famoso para experimentar esses benefícios, nem ter doenças. Atletas e corredores em qualquer nível podem experimentar a resistência aprimorada, desempenho e recuperação que as meias de corrida oferecem. E a conclusão de manter o uso é individual.
Como elas funcionam?
Quando você treina ou compete, as vibrações de impacto são enviadas ao longo de seus músculos, levando ao desgaste e sobrecarga que podem eventualmente causar lesões. As meias de compressão atléticas comprimem os músculos para reduzir as vibrações enviadas através da perna, dando suporte aos músculos, minimizando a fadiga muscular e reduzindo o risco de lesões.
Isso significa que suas pernas podem e conseguir ter mais resistência e suporte para os treinos longos e provas mais pesadas. As meias de compressão esportivas também podem ajudar a aumentar a circulação sanguínea e o fluxo de oxigênio. Estudos demonstraram que a compressão graduada impede que o sangue se acumule nos pés. Isso pode aumentar sua resistência porque mais sangue rico em oxigênio está fluindo constantemente em seu corpo. Você pode usar seja na corrida, bike, caminhada ou qualquer esporte de impacto.
Benefícios
Além dos citados acima, durante o exercício, a meia ajuda na eliminação do lactato, que se acumula no corpo e que faz com que seus músculos se endureçam e, eventualmente, fiquem doloridos. As meias de compressão podem acelerar o processo de degradação dessa substância, o que significa que você sentirá menos dores e pode se recuperar de uma corrida difícil ou um treino desafiador mais rápido.
Os Fabricantes afirmam que as meias
- aumentam a entrega de oxigênio
- diminuem o acumulo de lactato
- evitam cãibras
- minimizam a fadiga muscular
Até agora esse artigo pode parecer propaganda de meia, mas até mesmo os pesquisadores não têm uma resposta clara do seu beneficio. Não há dúvida de que muitos corredores confiam nas roupas de compressão e eu não possuo conflito de interesse, mas o que posso afirmar é que, durante décadas, as meias de compressão médicas foram e são usadas para combater a trombose venosa profunda ou a formação de coágulos sanguíneos.
Além de ajudar a aumentar a circulação e o fluxo sanguíneo, várias pesquisas mostraram que as meias são efetivas para pacientes acamados e inativos, mas realmente no esporte todos os trabalhos ainda tem algum viés e precisamos nos aprimorar antes de sair usando indiscriminadamente.
Contras
Existe pouca evidência (ou seja, dois a três estudos de mais de 15 anos) de uma perspectiva de esporte e exercício dizendo que as roupas de compressão melhoram o desempenho quando usadas durante o exercício. Além disso, muitos dos estudos que encontraram aumentos no desempenho não usaram um placebo ou controle, tornando quase impossível dizer se os aumentos eram realmente da compressão ou da percepção do atleta sobre a compressão.
Inúmeros outros estudos não encontraram diferenças nos tempos de funcionamento, VO2 máx, consumo de oxigênio ou frequência cardíaca entre atletas que usavam as meias e aqueles que não usam. E alguns mostraram possíveis aumentos no fluxo sanguíneo e remoção de linfa durante o período de recuperação – embora outros estudos descobriram que usar as meias após exercícios não teve maior efeito de recuperação do que fazer gelo.
A maioria dos estudos são feitos no laboratório. Recentemente, o primeiro estudo do mundo real, seguindo os atletas que participaram do Ultra-race Two Oceans, na África do Sul, descobriu que os atletas que competiam com meias de compressão, contra aqueles com meias regulares de joelho ou sem elas, tiveram significativamente menos dano muscular e foram capazes de se recuperar mais rapidamente, com alguns atletas preparados para treinar novamente três dias depois.
Aqueles que usavam as meias também corriam em média 12 minutos mais rápido. Mas o autor reconhece que seu estudo não pode ser considerado conclusivo, porque sempre há uma chance de um efeito placebo no cenário do mundo real. Resumindo, quem não gosta argumenta:
- Quanto mais alta for a meia, mais ela vai te esquentar. E isso já é um desconforto para alguns.
- Outro ponto são os preços: essas meias costumam ser caras
- Alguns profissionais acreditam que há perda no mecanismo de adaptação dos músculos com o uso das meias. Isso porque a pessoa que usa a meia com certa frequência nos treinos e em provas, faz com que o músculo se acostume com elas e, consequentemente, perdem a capacidade de se adaptar às vibrações, oscilações, mudanças de terreno, etc, tornando-o mais suscetível às lesões quando for correr ou realizar qualquer outra atividade física sem elas.
Uso ou não uso?
Se você experimentar e sentir os benefícios: use. Até certo ponto, se não houver nenhum efeito danoso – desde que não esteja apertado, quente, irritante ou provoque bolhas. Então, não importa se os benefícios estão na cabeça do atleta ou não. Porque se serve para as questões médicas e tem trabalhos que comprovam a eficácia, algum benefício deve ter para os atletas!
Lembrando que a compressão precisa ser graduada (mais apertado no tornozelo e diminuindo para o joelho, e ter entre 22 a 32 mmHg de pressão). Não há diferenças nas marcas desde que respeitem essas especificações e principalmente o conforto.
Dica
Se você já usa meia de compressão, tente variar um pouco, realizando treinos com e sem ela. Dê preferência para usá-la em dias mais frios, treinos mais longos e pesados ou quando você sente que seu corpo está um pouco mais cansado. Use-a como carta na manga. Saber como seu corpo se comporta com e sem elas te dá um arsenal maior de recursos disponíveis a serem usados em diferentes provas e sequência de treinos.
Dra. Ana Paula Simões Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.