Pé pandêmico – você já ouviu falar?

O pé pandêmico é uma condição absolutamente nova. Quem nunca sentiu dores no pé? Seja após um longo período de pé, após uma atividade física intensa, alguma lesão… O que é novidade é que muitas pessoas relataram dores no corpo, principalmente nos pés, após a pandemia, de acordo com uma matéria publicada no New York Times. Como médica, também venho notando uma maior procura de pacientes com queixa de dores nos pés atualmente.

Esse fenômeno ficou conhecido como “pé pandêmico”, nomenclatura atribuída pelo Dr. Rock Positano, médico do Serviço Não Cirúrgico de Pé e Tornozelo do Hospital de Cirurgia Especial em Nova York. Veja a seguir quais os fatores que estão relacionados com esse tipo de dor.

Quais as causas de dores nos pés após a pandemia e resolver o pé pandêmico?

Com a necessidade de isolamento social, acabamos ficando muito tempo reclusos, o que gerou diversas consequências:

Aumento do sedentarismo (muito tempo sentado, seja trabalhando ou assistindo televisão);
Aumento da ansiedade, compulsão alimentar e sobrepeso;
Perda de condicionamento físico;
Realização de atividades físicas com as quais o corpo não estava acostumado;
Pouca exposição ao sol, levando à queda da vitamina D;
Má qualidade na alimentação.

Devido a esses motivos, muitas pessoas acabam sofrendo com atrofia muscular e perda de densidade óssea. Mesmo que não houvesse tanto estímulo à musculatura, por conta da retomada das atividades, algumas lesões surgiram e outras pré-existentes acabaram piorando, por exemplo:

Tendinites: caracterizadas por um processo inflamatório nos tendões, essa condição surge por conta do uso em excesso da musculatura da panturrilha e dos pés sem um processo de fortalecimento prévio.

Bursites: assim como nas tendinites, essa condição é caracterizada por uma inflamação das bursas, que são bolsas de fluido lubrificante, responsáveis pelo amortecimento e redução do atrito entre as estruturas. As bursites também podem ser causadas pela sobrecarga ou falhas biomecânicas.

Fascite plantar: atingindo a fáscia plantar (tecido responsável pela sustentação do arco do pé, desde a região do calcanhar até a base dos dedos), a fascite é uma inflamação que pode acontecer por microtraumas repetitivos, falta de alongamento e sobrecarga.

Esporão do calcâneo: por estar relacionado com os mesmos fatores, é comum que o esporão do calcâneo coexista com a fascite plantar, e pode ser causado por um depósito excessivo de cálcio nos tecidos e estruturas ao redor do osso do calcanhar, em direção do tendão flexor curto dos dedos ou ao tendão de aquiles.
Fratura por estresse repetitivo nos ossos do pé: assim como em outras condições, esse tipo de fratura é causado pela sobrecarga nessas estruturas, o que pode causar dor intensa.
Entorse de tornozelo: As entorses são extremamente comuns e recorrentes, e podem acontecer durante a prática de atividades físicas ou em situações comuns, como caminhar, subir e descer escadas, entre outros.

Como fortalecer os pés?

Para te ajudar a evitar esses problemas, preparamos algumas dicas bem simples:

Antes de fazer qualquer atividade, prepare o seu corpo. Aquecimentos, alongamentos e fortalecimento são etapas essenciais para evitar lesões e garantir uma boa mobilidade. Quando não preparamos nosso corpo, além de nos sujeitar a lesões, também estamos mais propensos a adotar posturas incorretas ou sobrecarregar alguma área, o que pode causar dores e dificuldades de movimentação.

Escolha calçados confortáveis e adequados para que não exerçam pressão e garantam uma maior estabilidade. Um exemplo disso é o salto alto: como muitas mulheres deixaram de usar esse tipo de sapato na pandemia, retormar a sua utilização envolve um risco ainda maior.

Respeite os seus limites, pois o condicionamento físico que você possuía antes da pandemia, provavelmente não é o mesmo de agora. Então tenha paciência e comece aos poucos, de forma a garantir a sua segurança e evitar lesões. Se você chegou a ser internado por Covid-19, esse cuidado é ainda maior.

Na hora do fortalecimento, todos os músculos importam, principalmente os músculos dos pés. É importante lembrar que, se eles não vão bem, toda a nossa qualidade de vida é impactada. Procure realizar exercícios voltados para o fortalecimento dessa região, como:

Estenda um tapete no chão, e na posição sentada, tente enrugá-lo com os dedos dos pés, puxando e afastando.
Tente escrever (de forma simulada) as letras do alfabeto utilizando os dedos dos pés.

Com a ajuda de um suporte, ou até mesmo em um degrau, faça movimentos de ficar na ponta dos pés, subindo e descendo, e repita diversas vezes.

Deixando um pé na frente do outro, incline seu tronco e apoie as mãos na parede, alongando a sua panturrilha. Esse tipo de exercício também ajuda na mobilidade dos tornozelos.

Faça massagem na planta dos pés com ajuda de uma bola de tênis ou similar, passando os pés por cima dela. A maior vantagem é que esse exercício pode ser realizado enquanto você trabalha, estuda, assiste televisão, etc.

Todas essas dicas são passadas para meus pacientes e agora estou passando para você também. Caso sinta algo de diferente, como alguma dor prévia, se os exercícios estão causando algum desconforto, ou se desconfia de pé pandêmico, procure a ajuda de um profissional especializado para te ajudar!

Bons treinos!

Dra. Ana Paula Simões
Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.

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