Cãibras durante a corrida: como evitar
Poucas sensações são tão limitantes para um praticante de corrida quanto uma cãibra repentina no meio do treino ou de uma prova. Essa contração muscular involuntária, dolorosa e intensa é um evento relativamente comum entre os atletas e, embora muitas vezes passageiro, compromete o desempenho, causa lesões associadas e até mesmo força a interrupção da atividade física.
Nesse sentido, compreender o que está por trás dessas contrações, quais fatores favorecem seu surgimento e, principalmente, como evitá-las é fundamental para manter a regularidade do treino e garantir mais segurança na prática esportiva. A cãibra é um evento multifatorial e nem sempre está ligada à falta de alongamento ou desidratação.
O que são as cãibras e por que elas ocorrem na panturrilha?
As cãibras musculares são contrações involuntárias dolorosas de um músculo ou grupo muscular que ocorrem de forma repentina, e geralmente duram de alguns segundos a poucos minutos. Durante a corrida, a panturrilha é uma das regiões mais afetadas, visto que ela atua ativamente na propulsão do corpo, absorção do impacto e controle da fase de apoio.
A fisiologia exata das cãibras ainda é objeto de estudo, mas há um consenso de que elas envolvem um desequilíbrio entre os sinais neuromusculares que regulam o tônus muscular. Esse desequilíbrio pode ser desencadeado por fatores como fadiga extrema, desidratação, sobrecarga muscular, alterações dos níveis de eletrólitos e até mesmo falhas de controle motor devido à sobre-excitação das terminações nervosas.
A panturrilha, por ser formada por músculos de contração extremamente potentes (gastrocnêmio e sóleo), que trabalham de forma contínua durante a prática de corrida, é particularmente vulnerável. A repetição dos ciclos de contração e alongamento, quando associada a condições fisiológicas desfavoráveis, cria o ambiente ideal para o surgimento das temidas cãibras.
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Fatores que favorecem o surgimento de cãibras durante a corrida
As cãibras na panturrilha raramente apresentam uma causa única. Elas são, na maioria dos casos, consequência de uma combinação de fatores que atuam de forma simultânea sobre o sistema neuromuscular. Identificar esses elementos é o primeiro passo para uma abordagem eficaz e preventiva.
A fadiga muscular é o principal fator relacionado às cãibras. Quando os músculos são levados ao limite sem uma recuperação adequada, há acúmulo de metabólitos, redução da excitabilidade neuromuscular e aumento da sensibilidade a estímulos involuntários. Isso explica por que essas cãibras são mais frequentes nos treinos longos, intensos ou planejados inadequadamente.
Outro fator muito relevante é o desequilíbrio eletrolítico, principalmente em situações de suor excessivo e sem a reposição adequada. Minerais como sódio, potássio, magnésio e cálcio são fundamentais para a condução dos impulsos nervosos e contração muscular. A perda desses eletrólitos pode alterar a atividade dos neurônios motores e favorecer a contração.
A desidratação, além de contribuir para o desequilíbrio de eletrólitos, também interfere na irrigação sanguínea e na regulação térmica muscular, aumentando o risco de cãibras. Essa condição é comum nos dias quentes, corridas longas ou quando o atleta negligencia a hidratação prévia ou durante o exercício.
Fatores biomecânicos também devem ser considerados. O encurtamento muscular da panturrilha, fraqueza de músculos antagonistas, alterações na pisada e uso de calçados inadequados são fatores que geram sobrecarga localizada e favorecem o surgimento das contrações involuntárias.
Como diferenciar cãibra comum de outras condições musculares
Embora a cãibra seja uma condição extremamente comum, é necessário saber diferenciá-la de outras dores musculares que podem ocorrer durante a corrida. O diagnóstico clínico correto evita interpretações equivocadas e garante que o atleta tome a medida certa no momento ideal.
A cãibra é caracterizada por uma dor súbita, aguda e incapacitante, geralmente em um ponto específico da panturrilha. O músculo se torna visivelmente contraído e rígido, e o atleta precisa parar a atividade imediatamente.
Já as distensões musculares envolvem o rompimento parcial das fibras musculares e costumam causar dor imediata, acompanhada de hematoma, sensibilidade e dificuldade para apoiar o pé. Diferentemente da cãibra, a dor permanece mesmo após o exercício e piora com os movimentos de alongamento ou contração.
A síndrome compartimental crônica é outra condição que pode ser confundida com as cãibras. Nesse caso, há rigidez e dor muscular durante a corrida, mas provocadas pelo aumento da pressão interna dos compartimentos da perna. A dor surge de forma progressiva e desaparece ao cessar o exercício.
Condições vasculares e neurológicas também podem provocar desconforto na panturrilha, principalmente em corredores mais velhos ou que apresentam histórico de doenças crônicas. Por isso, quando as cãibras são frequentes, intensas ou ocorrem em repouso, é necessário buscar a orientação de um médico.
Estratégias eficazes para prevenir cãibras durante a corrida
A prevenção de cãibras na panturrilha começa com uma abordagem multifatorial que inclui hidratação e controle do volume de treinos. Pequenas alterações na rotina do corredor podem fazer grande diferença na redução da incidência desse problema.
O primeiro passo é implementar um processo de hidratação adequado. Ingerir líquidos regularmente ao longo do dia — e não apenas durante o treino — ajuda na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. Já nos treinos mais longos ou dias quentes, a reposição com bebidas isotônicas pode ser muito eficaz para repor sódio e outros minerais.
A alimentação equilibrada também é um fator fundamental. Dietas ricas em potássio, magnésio e cálcio contribuem para o bom funcionamento muscular. Em alguns casos, pode ser necessário avaliar a suplementação desses nutrientes com um profissional qualificado.
No campo do condicionamento físico, o fortalecimento dos músculos da panturrilha e dos estabilizadores do tornozelo ajuda na redução da fadiga precoce e melhora o controle neuromuscular. Elevação de calcanhar, saltos controlados e treino excêntrico são exercícios bastante úteis nesse processo.
O que fazer durante a corrida se a cãibra aparecer?
Mesmo implementando todos os cuidados, pode acontecer de a cãibra surgir durante um treino ou uma prova. Nesses momentos, é necessário agir com rapidez para evitar uma lesão secundária e aliviar o desconforto de forma segura.
A primeira medida a se tomar é interromper imediatamente a corrida. Forçar a continuidade do movimento com o músculo contraído pode causar rupturas nas fibras e agravar consideravelmente o quadro. O ideal é interromper, apoiar-se em uma superfície firme e realizar um alongamento passivo do grupo muscular afetado.
No caso de cãibra na panturrilha, a posição recomendada é apoiar o pé com o calcanhar no chão e inclinar o corpo para frente, mantendo o joelho estendido. Esse alongamento deve ser mantido por 20 a 30 segundos e repetido algumas vezes até que a contração ceda.
Após o alívio da cãibra, é importante não retomar a corrida imediatamente. O ideal é caminhar por alguns minutos, observar se a dor reaparece e se hidratar. Se a cãibra persistir ou houver dor residual forte, o melhor é encerrar o treino definitivamente.
As cãibras nas panturrilhas são comuns, mas não devem ser encaradas como algo normal. Elas são sinais de que algo precisa ser ajustado — seja na hidratação, planejamento do treino, alimentação ou biomecânica da corrida.
Se você tem sofrido com cãibras frequentes durante a corrida, agende sua consulta no tel abaixo e garanta uma conduta personalizada.
Bons treinos, valentes!
DOC ANA
11-25079021
@DraAnaPsimoes!

Dra. Ana Paula Simões Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.

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