Esportes ao ar livre com máscaras serão uma nova realidade?
Esportes ao ar livre com máscaras é uma nova realidade devido a pandemia da Covid-19. Isso têm deixado muitas pessoas com dúvidas sobre correr ou andar de bicicleta enquanto usam uma máscara facial.
Por isso, fiz um levantamento na literatura para discutir com vocês o que temos de embasamento científico e tranquilizá-los.
Quando converso sobre esporte na quarentena, acabo caindo na discussão das máscaras: em qualquer assunto sobre o exercício durante a crise do Covid-19, lá estão elas.
As pessoas sempre me perguntam sobre correr ou andar de bicicleta com uma máscara facial e como isso afetaria sua respiração, desempenho, chances de espalhar o coronavírus e até mesmo a visão.
Fiz alguns pesquisas para fazer esse texto e espero que, em princípio, isso não seja interpretado como um incentivo a correr e irem às ruas nesse momento.
Ele é, sim, um alerta de que pouco se sabe sobre a respiração sob uma máscara de proteção durante o exercício aeróbico e como isso afeta a propagação viral.
O que mais é falado nos artigos é sobre ajuste, propagação de gotículas, esforço percebido, termorregulação e dificuldade respiratória.
E é um alerta para ser levado em consideração quando o isolamento começar a ser afrouxado pelas autoridades devido à redução da curva de contaminação, e não em cidades e estados onde as autoridades de saúde estiverem recomendando que se permaneça em casa para evitar a propagação do coronavírus.
Nesses casos, não saia para correr ou pedalar. Exercite-se em casa!
É necessário praticar esportes ao ar livre com máscaras?
Esta resposta é mais sobre política e educação do que propagação viral. Em geral, o exercício ao ar livre, com ou sem máscara, parece seguro, uma vez que a premissa do distanciamento deve ser mantida.
Há poucos relatos sobre a transmissão do Covid-19 ocorreria ao ar livre, exceto talvez em grandes multidões/aglomerações.
Em artigo da Nature desse mês, Benjamin Cowling diz: “Correr é bom para a saúde e o risco de transmissão deve ser mínimo, tanto para os outros, se um corredor estiver infectado, quanto para o corredor, se eles passarem por pessoas infectadas”.
Sendo assim, a maioria de nós provavelmente deve cobrir o rosto enquanto se exercita ao ar livre, mas deve-se manter o distanciamento mesmo de máscara.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendam que todos agora usem algum tipo de máscara quando saírem de casa, e alguns municípios exigem cobertura facial se você estiver na rua.
As máscaras também podem tranquilizar as pessoas com quem você compartilha caminhos ou calçadas enquanto correm e que começaram a se esquivar quando os corredores passam por perto.
Usar uma máscara dificulta a corrida ou o ciclismo?
Segundo Bryanne Bellovary, que pesquisando exercícios em ambientes extremos estudou os efeitos em atletas do uso de máscaras especializadas que restringem o fluxo de ar e simulam o treinamento em altitude: “As pessoas que se exercitam com uma máscara facial podem sentir alguma resistência à respiração, dependendo da espessura do material da máscara”.
Thijs Eijsvogels, professor na Holanda que estuda a regulação do calor e a respiração de atletas, concorda. “Se a boca e o nariz estiverem totalmente cobertos (…) pode haver alguma limitação à ingestão de ar, o que pode aumentar o desconforto e diminui o desempenho da corrida”.
As máscaras também “ficam rapidamente molhadas” quando praticamos atividades mais intensas e a umidade em nossa respiração se acumula ali, diz o Louis-Philippe Boulet, professor de cardiologia e pneumologia de Quebec, que estudou asma em atletas. Inspirar através de um pano úmido tende a parecer mais árduo do que quando está seco. Pior, diz ele, as máscaras úmidas “perdem a eficiência antimicrobiana”.
E depois há o escoamento: “O exercício com uma máscara facial criará um microclima quente e úmido ao redor do seu rosto” à medida que a máscara retém sua respiração exalada, diz o Dr. Grant Lipman, professor clínico de medicina de emergência da Universidade de Stanford, que estuda atletas extremos e medicina da natureza.
Com efeito, a máscara transforma a metade inferior do seu rosto em uma “mini-sauna”, levando a um acúmulo de suor sob a máscara e a um aumento relacionado nas secreções nasais.
O resultado pode parecer “desagradável” se, como muitos de nós, “você acha ruim a sensação de muco escorrendo pelo seu rosto”.
Quando ele e seus colegas estudaram os efeitos do uso de uma cobertura facial à noite para dificultar a respiração e fingir estar em altitude, quase metade dos participantes relatou que mal conseguia dormir por causa das “abundantes secreções nasais” produzidas sob as máscaras.
No seu conjunto, a conclusão das pesquisas e experiências mostra que correr ou pedalar com uma máscara é claramente diferente e muitas vezes uma experiência desagradável em comparação com correr sem uma máscara.
Os óculos embaçam?
Provavelmente, diz Morten Hostrup, professor associado de fisiologia da Universidade de Copenhague. “Depende do tamanho da máscara, da intensidade da respiração e do tamanho dos óculos”.
As coberturas faciais que estão frouxas ao redor do nariz, permitindo que o ar quente e úmido flua para cima, provavelmente causam mais embaçamento, especialmente se os seus óculos apresentarem lentes e armações grandes que descansam confortavelmente nas bochechas.
Você pode reduzir a nebulização lavando as lentes com água e sabão antes de colocar a máscara, de acordo com um artigo para cirurgiões com óculos publicado em 2011 nos Anais do Royal College of Surgeons.
Para o maior conforto durante exercícios extenuantes, diz o Dr. Lipman, você pode considerar uma máscara de proteção full face ou Face Shield, um tipo de cobertura facial tubular que fixa na cabeça cobrindo todo rosto, o nariz e a boca.
Ou bandanas cobrindo nariz e boca que muitos atletas de montanha já usam como os buffs, que geralmente são feitos de tecidos sintéticos finos projetados para reduzir o acúmulo de calor e, como são abertos na parte inferior, promovem mais fluxo de ar do que as máscaras cirúrgicas comuns.
Mas, devido a esse design aberto e amplo, eles também apresentam menos barreira ao fluxo de saída ou influxo de germes do que as máscaras cirúrgicas ou seu equivalente caseiro.
Enquanto isso, as máscaras cirúrgicas podem bloquear os micróbios com mais eficácia. Mas são quentes e molham-se rapidamente durante os treinos. O que poderia tentar as pessoas a retirá-las, prejudicando quaisquer benefícios antivirais.
Portanto, talvez você precise consultar seu julgamento e consciência e experimentar alguns tipos diferentes de máscaras e tecidos. No mercado, já existem algumas respiráveis.
Qualquer que seja a sua escolha, mantenha distância!
A precaução mais importante é o distanciamento social. Fique a pelo menos um metro e meio de distância de quem você passa. E desinfete suas mãos e sua máscara quando chegar em casa.
Qualquer dúvida, me escreva.
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Dra. Ana Paula Simões Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.