Casa do Corre – Como a medicina potencializa a Corrida

No bate papo de hoje, falamos sobre como o avanço da medicina ajuda na performance esportiva dos atletas de corrida. Mediado pela Karina Teixeira, contamos com a participação da Dra. Ana Paula Simões e do Ademir Paulino.

Como é ser essa peça tão influenciadora para a corrida? Qual a pergunta mais comum que chega para vocês?

Ana Paula: No meu caso, os atletas já chegam com uma sacola, questionando qual a melhor opção para a corrida, para evitar lesões? É importante, nesse caso, que o tênis seja confortável. Tenha em mente que se o calçado tende a causar bolhas, feridas, unhas encravadas, ou está apertado demais, não é confortável. Independente da marca ou estilo, o ideal é que você se sinta bem, sem nenhum tipo de desconforto. Conforme a sua corrida evolui, o calçado também, e é muito importante adquirir essa percepção.

Karina Teixeira: Mas como seria o calçado básico?

Ana Paula: É bastante simples. Questione, ao comprar, quais os calçados voltados para corrida, como o Corre 1 ou o Corre 2.
Ademir: o Corre 2 foi criado para todos os tipos de corredores, de forma a facilitar esse processo de escolha. Ele tem um bom amortecimento, inclusive para iniciantes, sendo uma espécie de tênis “coringa”. Quando falamos de performance, temos opções mais específicas, como o Grafeno e o Corre Vento, que são mais voltados para a performance. É importante considerar a sua experiência, idade, sexo, condicionamento físico… é importante ter uma conversa com o atleta para orientar na melhor escolha.

Karina Teixeira: E para você, Raquel? Como as pessoas chegam?

Raquel: Quem aqui desgasta o tênis na lateral de fora do calcanhar? Quem diz que não está mentindo! Esse desgaste é natural e acaba acontecendo com todo mundo. O normal é que o pé esteja de ladinho na aterrisagem (supinação), e, com isso a lateral de fora acaba desgastando mais. Isso não é um problema de pisada e nem do calçado, podem ficar tranquilos.

Karina Teixeira: Raquel, aproveitando esse gancho, queria perguntar: muitas vezes as pessoas estão muito preocupadas com a biomecânica da corrida, se é necessário levantar mais a perna, se ela deve ficar mais para frente, e acabam mudando totalmente a forma de correr, copiando muitas vezes uma referência que não é compatível. Fala pra gente o que é postura, o que está certo e o que está errado…

Raquel: Tem uma variável na biomecânica que é extremamente importante: absorver o impacto. Isso quer dizer que é necessário aterrissar com suavidade. As pessoas são diferentes, cada um com seu biotipo e força. O tênis atua em conjunto com a postura, e é importante que estejamos apenas funcionando bem dentro da nossa realidade. A biomecânica é apenas uma peça dentro de toda a performance.

Ademir: As vezes o corredor iniciante acaba correndo mais devagar, e se questiona: o meu calcanhar não levanta tanto, o meu joelho não se projeta tanto pra frente. E isso tem relação com a velocidade do corredor, e por isso essa diferença acontece. A postura muda de acordo com a velocidade. Cada velocidade exige uma postura diferente, por esse motivo que os corredores de alta performance correm praticamente da mesma forma.

Ana Paula: E como vocês conseguem essa postura? É simples: com o fortalecimento. A brincadeira, a corrida, a diversão, tem embasamento no fortalecimento. Geralmente, o corredor não gosta do indoor, ele não se sente confortável. E nesse sentido existem várias formas de fortalecimento, que são os exercícios resistidos. Então você precisa ter um peso contra a sua força muscular, você pode usar borrachinha, elástico, os funcionais, o peso do corpo, o CrossFit, entre outros. Você pode fazer isso de diversas formas, e não só isolado em uma academia de musculação, mas de forma proporcional ao número de dias que você corre. Se você corre três dias por semana, não adianta se fortalecer em um dia apenas.

Karina Teixeira: Aproveitar que a Raquel falou da questão mental, como isso pode potencializar a performance do corredor e como vocês como profissionais podem ajudar nisso?

Ana Paula: A questão mental é a mais difícil, sendo também uma espécie de treinamento. Isso se adquire com o tempo, com a resiliência de cada treino. Muitas vezes você fica pensando “pra quê” isso? No dia a dia você vai se adaptando e ficando mais forte. E isso também vale para quem está indo apenas para se divertir. É importante contar com uma boa rede de apoio dentro da sua família, e principalmente, contar com uma boa noite de sono. Você deve estar ali por felicidade, por se sentir bem, pelo amor por você.

Ademir: Eu costumo falar que a corrida é um esporte mental, é exatamente a comunicação interna que você faz. Você é o seu maior algoz? O seu melhor amigo? Essa consciência é desenvolvida ao longo dos treinos. Quanto tempo durante a corrida a gente permanece concentrado? Focado naquilo que você está fazendo naquele momento. O mais importante que a gente aprenda a reduzir o julgamento. Com o passar do tempo, aprendemos a lidar com o desconforto e melhorar a nossa comunicação interna.

Karina Teixeira: É entender todo esse processo, compreender que é necessário começar ali da base e lidar com a adversidade, a dor… Correr é uma meditação ativa, recomendamos muito para quem nunca passou por essa experiencia. O que eu queria perguntar agora Ademir, é que, a gente falou muito da questão do corpo, da cabeça, mas e o produto? A tecnologia dos tênis, como ela ajuda os corredores dos mais diversos níveis?

Ademir: A gente está chegando em uma fase que é um divisor de águas. Até pouco tempo atras, o tênis era um mero detalhe da corrida. Já estive algumas vezes com os corredores Quenianos, e é muito engraçado que, na primeira vez que cheguei no Quênia, cheguei com 80 pares de tênis. O cara que me recepcionou no aeroporto e dirigiu a van era nitidamente um corredor, e eu falei pra ele que tinha levado alguns tênis, abri a sacola para ele pegar. A escolha dele não foi com base na marca, se o tênis era alto, se era baixo… Ele meramente olhou o tamanho. Ele pegou o primeiro tênis que ele achou que era do tamanho adequado pra ele, pois o tênis foi visto apenas como um objeto para proteger os seus pés.

 Entramos numa nova era agora. Eu testei o Grafeno, que é um tênis de placa, que representa a nova era dos calçados, e eu não acredito hoje que haverá um vencedor de maratona que não utilize um tênis com placa. Porque o tênis realmente faz diferença, principalmente na redução de desgaste da musculatura, o que pode fazer muita diferença no final. Hoje, pensando na marca Olympikus, podemos ver que ela já entrou de igual para igual no mercado, com tênis com placa, respiráveis e confortáveis. O mais importante é que você treine, é claro. Ele faz diferença diante de todo o cenário de treinamento, mas não faz milagre.

Raquel: Ele potencializa as funções e o desempenho do nosso próprio corpo. Se o corpo não possui a função, o tênis não vai criar. Mas estamos falando tanto da placa, o que ela faz? Pensa sim: na corrida, o movimento é resultado da força que fazemos para trás, e o chão empurra para frente. Alguma coisa precisa transferir essa força, que o trabalho dos nossos pés. Eles se mantem rígidos para ajudar nessa distribuição de força, que é exatamente o que a placa faz. Ela potencializa esse trabalho, e age como uma catapulta. Se não tivermos força e resistência, de nada adianta contar com esse recurso. É necessário que aconteça um trabalho em conjunto.

Ana Paula: O interessante de falar sobre a placa e seus benefícios, é exatamente o tipo de caso que aparece no consultório, quando a pessoa aparece com dor nos dedos. Quando a gente apoia o pé no chão e empurra, acontece uma quebra natural, que é sentida pelas mulheres que utilizam salto alto. A placa não deixa isso acontecer, ela une o pé em um bloco único de dispersão de energia e evita a quebra dos metatarsos, aliviando a dor. Quem ter dor na frente do pé, a placa é uma solução eficiente, pois ela alivia o impacto e a quebra nos metatarsos. É praticamente um tratamento.

Karina Teixeira: E o amortecimento? O Ademir participou da criação do Corre 2, e é uma tecnologia totalmente diferente em amortecimento. O quanto esse amortecimento ajuda o corredor?

Ademir: Falando de tecnologia, uma das coisas mais legais é a possibilidade de entrar na fábrica e compreender a tecnologia que está por trás da criação dos tênis. A Olympikus conseguiu expandir o EVA sem que ele esfarelasse, trazendo mais leveza para o calçado, mantendo o amortecimento. Quando a gente pensa na passada, quando o tênis é muito mole, não é benéfico para o movimento, pois ele não entrega o retorno necessário para o impulso adequado. É necessário que haja um equilíbrio entre maciez e rigidez para garantir mais eficiência.

Ana Paula: Essa absorção serve para que o seu corpo não sofra com o excesso de impacto e desenvolva fasceíte, esporão, tendinite do Aquiles, a dor na parte de trás do pé. Os drops muito baixos acabam absorvendo pouco e proporcionando mais impulso. Com a utilização de calçados com drops mais altos, a energia do movimento é dispersada de forma mais eficiente, aliviando as dores no retropé, da canelite, entre outros.

Karina Teixeira: Existe treino perfeito para cada tipo de corredor?

Raquel: na verdade, existe o treino perfeito para você, nem sempre o que funciona para um, vai funcionar bem para outros, é muito pessoal. Uma coisa que a Olympikus faz que deveria ser comum, mas não é, é fazer um tênis que caiba o pé. Existem formas tão estreitas, que fazem com que os dedos fiquem um em cima do outro, ou o pé fica solto dentro do tênis. Cabendo o pé, o resto é muito mais pessoal.

Ana Paula: dependendo do modelo do tênis, o número deve ser um pouco maior, pois deve ser levada em conta a vasodilatação que acontece durante a corrida. O pé incha depois de um tempo, e é necessário ter um espaço maior para que essa diferença não prejudique o desempenho. Mais do que caber, é necessário conseguir abrir os dedos dentro do tênis.

Karina Teixeira: O que vocês acham que pode vir de tecnologia para ajudar os corredores?

Adilson: estamos numa fase da tecnologia entrando na corrida para garantir mais desempenho. Hoje, um tênis de placa pode garantir uma vantagem maior para o participante, por exemplo. Essa tendência vai continuar, e a tecnologia vai continuar implementando recursos assim.

Ana Paula: além das tecnologias, é muito importante focar no fortalecimento do corpo, manter o peso em um nível adequado para evitar lesões, entre outros.

Raquel: é muito importante uma união do tênis com o próprio atleta, pois o tênis por si só não trabalha sozinha.

Ana Paula: a avaliação biomecânica realizada para a confecção do tênis mostra como a comunicação da marca com o atleta está melhorando.

Adilson: a parte mais legal disso, é facilitar a vida do corredor, prevenindo lesões e proporcionando mais conforto. O que falta é a disseminação da informação, pois a grande maioria das pessoas não tem acesso à esse tipo de consultoria. Contar com o laboratório de biomecânica foi essencial para criar o Corre 2, principalmente dentro da USP, que é a maior universidade do Brasil. Isso foi muito legal para entregar um resultado superior.

Ana Paula: com esse trabalho, todas as pessoas podem ter acesso a um produto de qualidade e que traga mais segurança para a prática esportiva.

Karina Teixeira: Vocês têm alguma dica para os corredores?

Adilson: Resumindo, a questão mais importante é o conforto. A tecnologia é legal, mas se o tênis não for confortável, não adianta.

Ana Paula: O fortalecimento e a força de vontade são muito importantes. Com o tempo você vai entendendo a necessidade de fortalecer e buscar mais apoio na prática esportiva.

Confira o vídeo do bate papo aqui:

Dra. Ana Paula Simões
Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.

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