Estiramento do ligamento – É preciso operar?

Estirei meu ligamento! Preciso operar?

O jogador Daniel Alves sofreu um estiramento do ligamento do joelho e por uma semana ficou no dilema se seria necessário operar ou não. Após confirmada a lesão, o mesmo foi cortado da copa! Veja aqui o motivo.

O que são ligamentos?

Os ligamentos são estruturas semelhantes à cabos formados por tecidos conjuntivo, que mantêm seus ossos juntos e estáveis permitindo que você ande e se mova sem falhar. Os ligamentos são flexíveis, mas não se alongam muito, justamente o necessário para que pratiquemos esportes mas ao mesmo tempo tenhamos segurança e estabilidade suficiente para suportar o peso do corpo dando flexibilidade e liberdade de movimento para absorver e transmitir as forças que passam por ele durante as atividades esportivas e do dia a dia.

Como identificar um estiramento do ligamento?

As Lesões ocorrem quando você torce uma articulação: ombro, punho, joelho, tornozelo, por exemplo. Além da torção existem também lesões após sofrer uma queda, um efeito chicote numa freada brusca ou levantar um objeto que é muito pesado – podendo rasgar ou desgastar essas estruturas. Essas lesões estabelecem um processo de cura chamado inflamação para reparar o ligamento. Você sabe que esse processo está acontecendo quando você sente dor, calor, nota inchaço e não consegue mover a articulação afetada.

Se o processo de cicatrização for completamente bem sucedido, os ligamentos retornarão à sua força e resistência  normais, e você poderá retornar às suas atividades esportivas. Se esse processo de cura não funcionar completamente, os ligamentos podem permanecer estirados e não funcionar como antes. Este ligamento “estendido” levará a uma situação que pode causar dor e desconforto com o movimento além da instabilidade.

Causas e mecanismos de lesão

Quando um ligamento é “esticado” ou lesionado, alguns dos fios que compõem sua estrutura  ficam sobrecarregados e fragilizados. O ligamento rompido ou esticado é apenas uma parte desses fios que são formados por moléculas de colágeno e perdem sua estabilidade e conexão. Podem correr por mudança rápida de direção; parada abrupta; redução de velocidade durante uma corrida; apoiar os pés incorretamente depois de um salto, contato direto ou colisão, como causada por outro atleta ao tentar “roubar” a bola.

Sinais e sintomas de um estiramento do ligamento

Os ligamentos frouxos permitem que a articulação se mova além de sua amplitude normal de movimento. O movimento anormal permitido pelo ligamento esticado irá produzir sensações dolorosas e conscientizá-lo do problema. Essas sensações também incluem sentimentos de “dormência e formigamento” e um fenômeno de dor referida. Esta dor referida é criada pela frouxidão ligamentar em torno de uma articulação, mas é sentida a alguma distância da articulação acometida.
O movimento anormal das articulações também cria muitas ações de proteção pelos tecidos adjacentes. Os músculos se contraem na tentativa de puxar a articulação de volta para o local correto ou estabilizá-la para protegê-la de mais danos. Sentimos então os espasmos musculares que estão relacionados à frouxidão ligamentar.

Tratamento e Prevenção para Estiramento do Ligamento

Existe uma tendência para tratar os espasmos musculares como a causa primária do problema e muitos tratamentos médicos podem ser direcionados para os espasmos musculares, e não para a causa primária: a tensão ligamentar. Se a articulação estiver ligeiramente deslocada devido à frouxidão ligamentar, ela pode responder a cuidados manipulativos. Essas técnicas manipulativas geralmente proporcionam um bom alívio e, às vezes, permanente. Mas costumo recomendar como regra geral uma fisioterapia analgésica e repouso e aguardar o processo “esfriar”para fazer uma segunda avaliação e testar se realmente cicatrizou. Após confirmar que está tudo bem, seguimos com o trabalho de força e propriocepção.

 

Infiltração Ligamentar

 A terapia por injeção nos ligamentos estimula o processo de cura. A técnica consiste em criar uma inflamação e estimular o colágeno e só pode ser feita por médicos, onde realizamos uma injeção de proliferantes que são substâncias irritantes suficientes para romper a superfície das paredes celulares e permitir o derramamento de seus conteúdos nos espaços imediatos e adjacentes próximos aos locais onde os fibroblastos residem na junção entre o ligamento e o osso. Isso estimula a cascata de cicatrização. O desconforto da proloterapia, ocorre porque é uma lesão “artificial”, e um sinal importante de que a cura está em andamento. A dor, o inchaço, o calor e a vermelhidão causada pela injeção são sinais de que os processos celulares e químicos estão seguramente em andamento. À medida que a dor diminui, o movimento articular pode aumentar.

Imobilização

Nos casos onde o atleta sente-se muito inseguro e o processo inflamatório é muito intenso , causando desconforto, podemos lançar mão de orteses imobilizadoras ou funcionais para que direcione a cicatrização das fibras.

 

Mas e o caso do atleta da seleção? Por que foi cortado?

Quando a lesão ligamentar é total ou seu estiramento e lesão parcial foi insuficientemente cicatrizada ( ou simplesmente não houve nenhuma cicatrização) gera desconforto e instabilidade, principalmente no atleta de alta performance. Nesses casos na segunda avaliação a qual citei acima é indicada a reconstrução. Por isso o afastamento.

Reconstrução do ligamento é uma cirurgia que repara os ligamentos danificados, podendo em determinadas articulações ser necessário a utilização de enxertos. Os ligamentos como descrevemos conectam os ossos uns aos outros para apoiar uma articulação, portanto na  reconstrução o objetivo é restaurar a estabilidade articular e amplitude de movimento.
O movimento articular normal requer nervos, músculos, ligamentos e tendões saudáveis. Os ligamentos abrangem a articulação e limitam o quanto uma articulação pode se mover. Isso protege contra deslocamento e hiperextensão, sendo assim, devemos sempre comparar com o lado contra lateral para analisarmos o que é considerado normal para o paciente, desde que o mesmo também não tenha alterações para que possa ser tido como referência.

Se fosse deixado jogar com a lesão ( e conseguisse)  poderia causar problemas nas articulações, além do mais é difícil que os ligamentos e tendões gravemente danificados se curem sozinhos, mas essa decisão deve ser tomada pelo médico juntamente com o paciente !

Publicado em Globo Esporte

Veja também: Inovações no tratamento do Joanete

Dra. Ana Paula Simões
Médica do esporte, ortopedista e traumatologista, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo e pé.

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